25 de Novembro de 2007,

Eram quase onze da noite e a sirene começou a tocar, o toque não enganava, incêndio urbano.

Quando cheguei ao quartel já andavam alguns colegas na correria normal para se equipar e avançar para o local. Equipei-me e dirigi-me para uma viatura, a indicação era a de incêndio urbano no lugar de Sr. dos Remédios Rio de Moinhos, e então avançamos para o local.

Quando chegámos encontrámos uma habitação totalmente tomada pelas chamas e encontrámos também uma vitima no exterior que tinha sido projectado por o rebentamento de uma garrafa de gás.

Perguntamos o que lhe tinha acontecido ao qual nos respondeu que havia alguém dentro da habitação e que tentou ir lá tirá-lo mas foi projectado quando a garrafa de gás explodiu.

Ainda estávamos a socorrer esta vitima e dá-se nova explosão, mais uma garrafa de gás que rebentou.

Enquanto uns socorriam esta vitima, já outra equipa efectuava reconhecimento, fizemos a montagem de duas linhas de água de 45 mm e mais uma linha de emergência, e começamos a fazer ataque defensivo, sim porque naquelas circunstâncias não podíamos fazer muito mais, porque toda a habitação estava envolta em chamas, o telhado já tinha caído e apesar de nos terem dito que havia alguém no interior da habitação, nós nada podíamos fazer face à violência do fogo.

Passado algum tempo já com o incêndio extinto iniciamos a busca secundária onde encontrámos duas garrafas de gás na cozinha, uma num quarto e mais duas num compartimento que seria uma arrecadação.

5 garrafas de gás numa só casa, e todas elas no seu interior, se pensarmos um pouco nisto chegámos à conclusão que o desfecho desta situação podia ter sido bem pior, muito mais trágica, porque todos nós durante o combate ao fogo estivemos expostos a um perigo enorme, e sem sabermos.

Por volta da 00:15 encontrámos parte de um cadáver carbonizado, e continuando a nossa busca fomos encontrando partes do corpo pela casa completamente desfeitos. Foi para alguns de nós uma situação delicada, pois dadas as circunstâncias, nem toda a gente está preparada para um cenário daqueles.

Ao longo da noite fomos sabendo pormenores, de como teria acontecido o incêndio, e pelo que ouvimos terá sido uma vela que a vitima usaria diariamente para iluminar a casa, pois esta não tinha nem eletricidade nem água canalizada. Este homem vivia sózinho desde que a sua mãe que vivia com ele anteriormente sofreu uma trombose e desde então foi viver para casa de outro filho. Viemos a saber também que sofria de epilépsia, e que muito provavelmente teria sofrido uma crise convulsiva e daí não ter conseguido fugir do incêndio, mas isso só a autópsia o diz e também não nos compete a nós investigar isso.

Infelizmente ainda hoje existe muita gente que vive nestas condições, sózinhos, sem luz e sem água canalizada. A solidão destas pessoas chega a ser assustadora, de tal forma que, quando somos chamados a intervir em algumas situações, algumas destas pessoas "isolam-se" e quase nem nos deixam aproximar para as podermos ajudar, e já outras quando nos apercebemos até acabam por não ter nada que justifique terem chamado os bombeiros, porque no fundo o que estas pessoas precisam, é de alguém que lhes faça um pouco de companhia e que as ouça um pouco.

Segundo a vizinhança este era um homem pacato, trabalhador e que não fazia mal a ninguém, mas como dizia uma vizinha, "morreu sózinho numa casa sem as minimas condições no coração de uma Vila moderna como é a de Rio de Moinhos".

Deixo aqui também a informação que nesta ocorrência, estivemos envolvidos 24 elementos apoiados por 7 viaturas e que esteve também no local a VMER (viatura médica de emergência e reanimação) do Vale do Sousa.

Quero deixar-vos aqui um apelo, o gás é uma substancia extremamente perigosa, e sempre que possível não o tenham dentro de casa mas sim no exterior, e não sendo possível tê-lo no exterior, tentem pelo menos não ter mais que uma garrafa dentro de casa.

Este homen tinha 5 garrafas  no interior de casa e só duas rebentaram, agora imaginem se tivessem rebentado todas, quantas vitimas poderiam ser...

Tenham cuidado em vossas casas principalmente com o gás e com a luz, porque mesmo tendo cuidado, todo o cuidado é pouco.